Lei da conservação da massa (Lei de LEVOISIER)

"Na natureza nada se cria, nada se destrói, tudo se transforma" ANTOINE LAURENT LAVOISIER (1743 - 1794)

A expressão que o Sr. Herbert Spencer emprega "a persistência do mais apto", é a mais exata e algumas vezes mais cômoda. A Origem das Espécies - Charles Darwin ( 1809 - 1882)

“Nada em biologia faz sentido senão sob a luz da evolução”. Theodosius Dobzhansky (1900- 1975)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Síntese Trypanosoma cruzi e Doença de Chagas


Marta de Lana / Washington Luiz Tafuri

INTRODUÇÃO

      O Trypanosoma cruzi é um protozoário agente etiológico da doença de chagas que constitui uma antroponose freqüente nas Américas. Este protozoário e a doença foram descobertos e descritos pelo grande cientista Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas. Chagas estudava a malária e agregou-se a equipe de Osvaldo Crus nos combate a malaria em Minas Gerais no período de construção da Estrada de Ferro Central do Brasil.
 Imagem barbeiro: Imagem: unicamp.br
      
       Exameniva animais buscando relações com as patologias da região, em um mico encontrou um hemoflagelado, denominado-o Trypanosoma minasensi, em “chupões” ou “Barbeiros” insetos hematófagos encontrou outro tripanossoma com cinetoplasto grande e movimentação intensa. Enviou exemplares para Oswaldo Crus que em seu laboratório comprovou a suspeita de Chagas de que este tripanosoma deveria ser uma espécie nova que circulava entre barbeiros, mamíferos e, talvez humanos.
        Em 1909, ao examinar uma criança febril descobriu em seu sangue aquele mesmo protozoário encontrado nos barbeiros e nas diversas espécies de animais examinados, bem como semelhanças nos sintomas.
       O grande cientista estudou a morfologia e a biologia do parasita no hospedeiro vertebrado e invertebrado,  seus reservatórios e diversos aspectos e sintomatologia pertinentes a fase aguda do Trypanosoma cruzy. (CHAGAS, 1909).
       Atualmente a doença de Chagas no Brasil e nos países da América Latina um problema médico-social grave. No Brasil atinge 8 milhões de pessoas, principalmente a população pobre que residem em condições precárias. Constitui uma das principais causas de morte súbita que pode ocorrer com freqüência na faze mais produtiva do cidadão, segunda a OMS.

MORFOLOGIA
     O T. cruzy possui seu ciclo biológico nos hospedeiros vertebrados e invertebrados e várias formas evolutivas.

Hospedeiro Vertebrado
   Na cultura de tecidos são encontradas intracelularmente as formas amastigota,e extracelularmente as formas tripomastígotas sendo formas infectantes para células in vitro e para vertebrados.
   Os tripomastigotas sanguineos apresentam variações morfológicas denominadas “polimorfismo” que guardam correlações importantes com outras características fisiológicas do parasita. Ao longo da infecção surgem tripomastigotas sanguineos delgado, intermediários ou largos. As formas delgadas seriam mais infectantes para células, desenvolvendo parasitemia mais precoces, porém mais sensíveis á ação de anticorpos circulantes. Formas largas menos infectantes, demoram mais para penetrar na célula, desenvolvendo parasitemias mais tardias porem mais resistentes a ação de anticorpos.
   Os tripomastigotas delgados são menos capazes de desenvolver no vetor que os tripomastígotas largos, diferindo também o tropismo celular. Tripomastigotas delgado parasitam células do sistemas mononuclear fagocitário (macrofagotrópicas). Cepas que apresentam formas largas tem tropismo por células musculares lisa, cardíaca e esquelética (miotropicas). Formas delgadas são mais freqüente no inicio da infecção do hospedeiro vertebrado, quando ainda não existe uma imunidade humoral especifica para o parasita, sendo posteriormente substituída pelas formas largas mais resistentes a ação de anticorpos predominando na fase mais tardia da infecção quando a imunidade já se estabeleceu.

Hospedeiro Invertebrado
   Inicialmente encontra-se formas arredondadas com flagelo circundando o corpo, denominadas esferomastigotas presentes no estomago e intestino do triatomíneo. Formas epimastígotas presentes em todo o intestino e tripomastígotas presentes no reto. O tripomastígota metacíclico constitui a forma mais natural de infecção para o hospedeiro vertebrado.

BIOLOGIA
       O ciclo biológico do T. cruzy é do tipo heteroxênico, passando o parasita por uma fase de multiplicação intracelular no hospedeiro vertebrado e extracelular no inseto vetor.
 Imagem: pt.wikipedia.org

Ciclo Biológico no Hospedeiro Vertebrado
     Amastigotas, epimastigotas e tripomastigotas interagem com células do hospedeiro vertebrado e apenas as epimastigotas não são capazes de nelas se desenvolver e multiplicar.
   Considerando o mecanismo natural de infecção pelo T. cruzi, os tripomastígotas metacíclicos eliminados nas fezes e urina do vetor, durante ou logo após o repasto sanguíneo, penetram pelo local da picada e interagem com células do SMF da pele ou mucosas. Neste local, ocorre a transformação dos tripomastígotas em amastígotas, que aí se multiplicam por divisão binária simples.
       A seguir, ocorre a diferenciação dos amastígotas em tripomastígotas, que são liberados da célula hospedeira caindo no interstício. Estes tripomastígotas caem na corrente circulatória, atingem outras células de qualquer tecido ou órgão para cumprir novo ciclo celular ou são destruídos por mecanismos imunoló-gicos do hospedeiro.
      Podem ainda ser ingeridos por triatomíneos, onde cumprirão seu ciclo extracelular. No início da infecção do vertebrado (fase aguda), a parasitemia é mais elevada, podendo ocorrer morte do hospedeiro. Na espécie humana, a mortalidade nesta fase da infecção ocorre principalmente em crianças. Quando o hospedeiro desenvolve resposta imune eficaz, diminui a parasitemia e a infecção tende a se cronificar.
Na fase crônica, o número de parasitas é pequeno na circulação, só sendo detectados por métodos especiais (xenodiagnóstico, hemocultura e inoculação em camundongos — ver diagnóstico). A evolução e o desenvolvimento das diferentes formas clínicas da fase crônica da doença de Chagas ocorrem lentamente, após 10 a 15 anos de infecção ou mais.
     Experiências in vitro demonstram que o mecanismo de interação entre o parasito e as células do hospedeiro vertebrado denomina-se “endocitose”, no qual participam ativamente a célula e o parasito. Componentes de membrana de ambos, alguns com composição e peso molecular já conhecidos, interagem entre si.
       A interação entre o parasito e a célula hospedeira ocorre em três fases sucessivas
1) Adesão celular: quando ambos se reconhecem e o contato membrana-membrana ocorre;
2) Interiorização: quando ocorre a formação de pseudópodes e a consequente formação do vacúolo fagocitário. A concentração de Ca2+ tem sido também considerada um fator importante na penetração do parasita na célula hospedeira e facilita a chegada dos lisossomas para as proximidades do parasita chegando mesmo a fazer parte da membrana do vacúolo fagocitário;
3) Fenômenos intracelulares: quando as formas epimastígotas são destruídas dentro do vacúolo fagocitário (fagolisossoma) e os tripomastígotas sobrevivem resistindo às ações das enzimas lisossômicas e desenvolvendo-se livremente no citoplasma da célula, onde se transformam em amastígotas (três horas após a interiorização).
      Em cultivo do T. cruzi em macrófagos foi verificado que os amastígotas se multiplicam por divisão binária simples, a cada 12 horas, num total de nove gerações, totalizando cerca de 540 parasitos, que a seguir se diferenciam em tripomastígotas por um mecanismo denominado “alongamento”.
   A célula hospedeira, repleta de parasitos, se rompe, liberando no interstício os tripomastígotas ou mesmo amastígotas que ainda não se diferenciaram, além de detritos celulares da célula hospedeira.

Ciclo biológico no hospedeiro invertebrado
     Os triatomíneos vetores se infectam ao ingerir as formas tripomastígotas presentes na corrente circulatória do hospedeiro vertebrado durante o hematofagismo. No estômago do inseto eles se transformam em formas arredondadas e epimastígotas. No intestino médio, os epimastígotas se multiplicam por divisão binária simples, sendo, portanto, responsáveis pela manutenção da infecção no vetor.
No reto, porção terminal do tubo digestivo, os epimastígotas se diferenciam em tripomastígotas (infectantes para os vertebrados), sendo eliminados nas fezes ou na urina. Esta é a descrição clássica adotada para o ciclo do T. cruzi no invertebrado.
     Outros estudos revelaram que os tripomastígotas sanguíneos ingeridos se transformariam no estômago do vetor em organismos arredondados, denominados esferomastígo-tas, circundados ou não por flagelo e que têm um importante papel no ciclo biológico do vetor.
  Estes esferomastígotas poderiam se transformar em tripomastígotas  metacíclicos infectantes ou em epimastígo-tas de dois tipos: epimastígotas curtos, capazes de se multiplicar por divisão binária simples e então se transformar novamente em esferomastígotas que dariam os tripomas-tígotas metacíclicos, ou epimastígotas longos, que não se multiplicam e nem se diferenciam para tripomastígotas metacíclicos.

MECANISMOS DE TRANSMISSÃO
     Pelos vetor a infecção ocorre pela penetração de tripomastigotas metaciclicos em solução de continuidade da pele ou mucosa íntegra.
Transfusão sanguinea é um mecanismo de transmissão.
      A transmissão congênita ocorre quando existem ninhos de amastigotas na placenta, que liberariam tripomastigotas chegando a circulação fatal.
     Acidentes de laboratório se da pela contaminação do parasita com a pele lesada, mucosa oral ocular ou auto-inoculação.
   Transmissão oral como a amamentação, animais ingerido triatomídios infectados, canibalismo entre diferentes espécies de animais, ingestão de alimentos contaminados com fezes ou urina de triatomidios infectados.
      Coito havendo apenas relato de encontro de triapomastigotas em sangue de mestruação de mulheres chagásicas e no esperma de cobaios infectados.  
Transplante de órgãos infectados podendo desencadear faze aguda grave.

A DOENÇA
   Sintomática ou assintomática, ambas relacionada com o estado imunológico do hospedeiro. As manifestações gerais são representadas por febre, edema localizado e generalizado, poliadenia, hepatomegalia, esplenomegalia, insuficiência cardíaca e perturbações neurológicas.
Fase aguda, fase crônica Assintomática, fase crônica Sintomática, forma cardíaca, forma digestiva e forma nervosa.

DIAGNÓSTICO
Clínico - Sinal de Romanã e chagoma de inoculação. Febre, adenopatia-satélite ou generalizada, hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema.   

Laboratorial – Na fase aguda observa-se alta parasitemia, presença de anticorpos inespecíficos e inicio de formação de anticorpos específicos (IgM e IgG). Na fase crônica, baixíssima parasitemia, presença de anticorpos específicos (IgG).

Fase Aguda – Exames Parasitológicos: Exame de sangue a fresco, exame de sangue em gota espessa, esfregaço sanguineo corado pelo Giemsa, cultura de sangue ou material de biópsia, inoculação do sangue, método de concentração, o xenodiagnóstico e a hemocultura.

Fase Aguda – Exames Sorológicos: Reação de precipitação ou precipita, reação de imunofluorescência indireta (RIFI), enzime-linked-immunosorbent-assay (ELISA).

Fase Crônica – Exames Parasitológicos: Xenodiagnóstico, Hemocultura, inoculação em camundongos jovens.

Fase Crônica – Exames Sorológicos: O diagnóstico sorológico evidencia a presença de anti-corpos específicos no soro do paciente. Técnica antiga a de Reação de fixação de complemento (RFC) ou de Guerreiro e Machado. Existem também os exames de Reação de imunofluorescência indireta (RIFI), reação de hemaglutinação indireta (RHA). enzime-linked-immunosorbent-assay (ELISA). Lise mediada por complemento (LMCo). Pesquisa de anticorpos antitripomastigotas vivos (AATV).

Método Parasitológico-Molecular: Reação em cadeia da polimerase (PCR).

Critério de Cura - Vários métodos de exames laboratorias são indicados como critério de cura:
I – Parasitológico: Xenidiagnóstico (Xd) e hemocultura (Hc);
II – Parasitológico molecular (PCR);
III – Sorológico convencionais (RIFI, ELISA, RHA etc);
IV – Sorológico nã´-convencionado (LMCo e pesquisa de AATV por citometria de fluxo);

EPIDEMIOLOGIA
    Segundos dados recentes da OMS doença de Chaga atinge 16 a 18 milhões de habitantes de 18 países, causando 21.000 mortes anuais e uma incidência de 300.000 novos casos por ano. No Brasil, cerca de 6 milhões de habitantes são infectados. Ela se distribui em duas zonas ecológicas distintas: Cone Sul, onde os insetos vetores vivem em habitações humanas, e o outro, constituído pelo sul da América do Norte, América Central e México, onde o vetor vive em ambos os ambientes, dentro e fora do domicílio.

PROFILAXIA
    Melhoria nas habitações rurais, combate ao barbeiro, controle do doador de sangue, controle de transmissão congênita, vacinação.

TRATAMENTO
      A terapêutica da doença de Chagas continua parcialmente ineficaz. Diversas drogas vêm sendo testadas em animais e algumas delas têm sido usadas no homem. Alguns medicamentos NIFURTIMOX que age nas formas sanguineas e parcialmente contra as formas teciduais. BENZONIDAZOL possui efeitos apenas contra as formas sanguineas. Uso dos derivados azólicos ou de citocinas associdas as benzonidazol em modelos experimentais, vêm se constituindo em potenciais tratamentos para a infecção.



Imagem livro Parasitologia humana: submarino.com.br
Imagem barbeiro: Imagem: unicamp.br
Imagem ciclo de vida: pt.wikipedia.org


Parasitologia humana / [editor] David Pereira Neves. — 11. ed. — São Paulo : Editora Atheneu, 2005. Site: www.atheneu.com.br